Não era um dia qualquer

Saudade de ouvir um versículo nas manhãs que pareciam mais uma manhã qualquer. Nem sabia, mas cada uma delas não era uma manhã qualquer.

Saudade de ouvir numa tarde qualquer “vou ali rebentar uns “mí” de pipoca”, enquanto ao fundo o Jerry Lewis fazia graça na TV. Não sabia, mas não era uma tarde qualquer.

Saudade de ver aquele bigodinho branco sentado na segunda fila da Igreja. Parecia só mais um domingo. Mas não era mesmo mais um domingo qualquer.

Saudade das horas e horas nas filas da SAB em busca dos nossos 3 quilos de carne, ouvindo histórias e mais histórias. O tempo voava e eu nem imaginava, cada uma delas não era uma história qualquer.

Saudade dos longos almoços de domingo, das panelas cheias, da carne apertada na pressão, do cheiro gostoso de alho queimado, oração, tios em casa. Podia mesmo parecer, mas cada um desses não era só mais um almoço qualquer.

Saudade de abrir a porta gritando ‘bença’ já esperando a voz mansa abençoar de volta. Acontecia sempre e toda hora, mas cada uma era muito mais que uma benção qualquer.

Saudade de ouvir o barulho do chinelo arrastando, do radinho ligado, da bomba de Mafú, do pedido de silêncio na hora do jornal, da caneca de alumínio batendo na mesa, do abacate caindo fora da lata, do som das poesias, dos conselhos e de qualquer palavra.

Saudade de qualquer coisa, saudade, saudade, saudade. Porque qualquer momento com ele, hoje eu sei, não era um momento qualquer.

Se a saudade dói mais que queria, conforta saber que ela é melhor do que caminhar com o coração vazio.

Se o tempo já mostrou que não tem passagem de volta, vivemos as memórias desse homem que não era um homem qualquer.

Se toda saudade tem nome, essa vem com Santos no sobrenome, porque não podia mesmo ter nascido num dia qualquer.

Dia 1 de novembro sempre é dia de festa no céu.

Saudades, Seu Lázaro.

Deixe um comentário